“O Preço da Ganância: A Verdade sobre a Inflação Brasileira”
A Falsa Modéstia do Lucro: A Responsabilidade INTRANSFERÍVEL dos Empresários no Combate à Inflação
A cantilena é velha e conhecida: a culpa pela inflação reside invariavelmente nos ombros do governo, nas políticas macroeconômicas, no câmbio instável ou em fatores externos imprevisíveis. Contudo, essa narrativa conveniente, frequentemente repetida por setores empresariais, esconde uma parcela significativa de responsabilidade que lhes é intrínseca e inegável: a forma como definem seus preços e a ganância que, por vezes, tolda suas decisões.
O mantra do ciclo virtuoso – menores preços gerando um efeito cascata de prosperidade – soa como uma utopia distante da realidade praticada por muitos. Em vez de internalizarem a lógica de que um volume maior de vendas a margens menores pode gerar um bem-estar coletivo e, ironicamente, um lucro agregado superior a longo prazo, preferem a via fácil do aumento constante, da exploração da inelasticidade da demanda e da maximização do lucro unitário a qualquer custo social.
Assistimos, estarrecidos, a setores inteiros que, em vez de buscarem eficiência e inovação para otimizar seus custos e oferecer preços mais competitivos, optam por repassar integralmente, e muitas vezes exponencialmente, qualquer variação de custo ao consumidor final. A justificativa? A já conhecida retórica da imperatividade de sustentar a margem. Mas que margem é essa que se sustenta na penúria da maioria, que estrangula o poder de compra e que, em última instância, sabota o próprio mercado ao reduzir o consumo?
O ciclo vicioso da inflação não é um fenômeno natural, mas sim, em grande parte, o resultado de decisões empresariais míopes e egoístas. A busca incessante pelo maior preço de venda, sem considerar o impacto macroeconômico e social de suas ações, fecha um ciclo perverso: preços altos afugentam consumidores, a produção diminui, empregos são perdidos, a renda se comprime, o consumo definha e, consequentemente, a arrecadação de tributos cai, limitando a capacidade de investimento do próprio Estado.
É hora de desmistificar a ideia de que o empresário é um mero espectador passivo das flutuações econômicas. Ele é um agente ativo, com poder significativo na formação dos preços e, portanto, com uma responsabilidade social que transcende a mera busca pelo lucro individual. A alegação de que o controle da inflação é unicamente uma tarefa governamental soa como uma conveniente fuga de responsabilidade. O governo tem o papel crucial de implementar políticas macroeconômicas eficazes, mas a colaboração do setor empresarial, através de uma política de preços mais justa e socialmente consciente, é fundamental para o sucesso de qualquer medida.
A ganância desmedida, travestida de “estratégia de mercado”, é um tiro no pé da economia como um todo. Empresários que priorizam o lucro imediato e estratosférico em detrimento de um mercado consumidor saudável e pujante estão, na verdade, serrando o galho em que estão sentados. A verdadeira inteligência empresarial reside na compreensão de que a prosperidade coletiva é o alicerce de um sucesso duradouro.
É imperativo que a mentalidade empresarial evolua. A busca por um lucro razoável, atrelada a preços mais acessíveis, não é um ato de caridade, mas sim uma estratégia inteligente e sustentável a longo prazo. Um mercado com maior poder de compra é um mercado com maior potencial de crescimento para todos. A responsabilidade de romper o ciclo vicioso da inflação não é apenas do governo: reside, fundamentalmente, na ética e na visão de futuro dos próprios empresários. A conta, no final das contas, sempre chega para todos.