Quando o Ministério da Fazenda afirma que há algo muito errado com o Brasil, não se trata de retórica — é apenas a exposição crua de uma verdade que muitos já sabem e poucos têm coragem de enfrentar. O sistema tributário brasileiro é, há décadas, uma engrenagem perversa que protege os de cima e esmaga os de baixo. E isso não é uma opinião: é um fato comprovado por dados.
Como explicar que um brasileiro que ganha mais de R$ 1 milhão por ano pague, em média, apenas 2,5% de Imposto de Renda? A resposta está nas brechas legais, nos mecanismos de elisão fiscal, nas isenções seletivas e nos tratamentos privilegiados que beneficiam especialmente quem vive de dividendos, aplicações financeiras e estruturas jurídicas feitas sob medida para driblar a carga tributária.
Enquanto isso, o trabalhador assalariado — que ganha, por exemplo, R$ 4 mil — vê seu contracheque ser corroído todos os meses por descontos automáticos. Esse mesmo trabalhador ainda paga impostos indiretos sobre tudo o que consome: da comida à energia elétrica. Em resumo, paga mais, proporcionalmente, do que os milionários blindados por um sistema que perpetua desigualdades.
A proposta do Ministério da Fazenda não é uma revolução socialista, nem uma medida de confisco. É, na verdade, um gesto mínimo de justiça fiscal. O que o governo propõe é simples: quem atualmente paga menos de 10% de IR, mesmo tendo alta renda, deverá contribuir com pelo menos esse percentual. É o que se chama de “alíquota efetiva mínima”. E mesmo assim, apenas os super-ricos seriam impactados.
Dizer que isso é um ataque ao crescimento ou ao investimento é distorcer o debate. Nenhum país sério funciona com tamanha leniência tributária para o topo da pirâmide. Nos EUA, na Alemanha, no Canadá, milionários pagam muito mais — e ainda assim as economias florescem. O que estrangula o desenvolvimento não é o imposto justo, é a desigualdade injustificável.
A resistência do Congresso à taxação mínima revela, mais uma vez, para quem muitos parlamentares de fato trabalham. A narrativa de que “a sociedade não aguenta mais imposto” é usada seletivamente — ela nunca aparece quando se trata de taxar consumo ou cortar isenções bilionárias para grandes empresas. Só ganha voz quando os privilegiados sentem, minimamente, o peso da equidade.
O Brasil precisa, urgentemente, mudar essa lógica. E o Ministério da Fazenda, ao pautar esse debate, está apenas exigindo o óbvio: que quem ganha muito, contribua com um pouco mais. Não para punir ninguém, mas para aliviar a carga de quem já sofre há muito tempo. E se isso é motivo de escândalo, então sim: tem algo muito errado com esse país.
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