Israel aceita plano de cessar-fogo na Faixa de Gaza: trégua ou pausa estratégica?

Nesta quinta-feira (29), os Estados Unidos anunciaram que Israel aceitou um plano para cessar-fogo na Faixa de Gaza, enquanto o grupo Hamas afirma que está analisando a proposta “com responsabilidade”. A informação foi confirmada pela porta-voz da Casa Branca, Karine Jean-Pierre, como parte de uma iniciativa liderada pelo Egito, Qatar e EUA. O objetivo seria pôr fim ao ciclo de violência que já provocou milhares de mortes e o colapso humanitário em Gaza.

À primeira vista, o anúncio parece um respiro necessário num cenário sufocado por meses de bombardeios, mortes civis, deslocamentos forçados e destruição generalizada. No entanto, a aceitação do plano por Israel — ainda sem detalhes públicos sobre suas cláusulas centrais — levanta questões sobre a real intenção da trégua: seria uma abertura ao diálogo duradouro ou uma simples pausa estratégica para reorganização militar?

Do lado palestino, o Hamas afirma que analisa a proposta com “seriedade e responsabilidade”. Mas a ambiguidade no tom da resposta, somada à ausência de confiança mútua, reforça o histórico ciclo de cessar-fogos temporários que não atacam a raiz do problema: o bloqueio de Gaza, a ocupação, as mortes de civis e a ausência de um processo político legítimo entre as partes.

A posição dos Estados Unidos é, mais uma vez, ambígua. Ao mesmo tempo que pressiona Israel por moderação, continua garantindo apoio militar e diplomático ao aliado histórico na região. Essa dualidade compromete a legitimidade de Washington como mediador de paz — e favorece uma diplomacia seletiva, onde o poder de veto no Conselho de Segurança da ONU serve como escudo para as ações do governo israelense.

A possível trégua, se ocorrer, precisa ser vista com cautela. O que se observa, em boa parte das negociações anteriores, é o uso de cessar-fogos como mecanismos táticos — e não como etapas de um processo de paz efetivo. Sem compromissos concretos sobre reconstrução, fim do bloqueio e respeito ao direito internacional, qualquer pausa tende a ser apenas isso: uma pausa.

Enquanto a proposta é avaliada, os civis continuam sendo as maiores vítimas. Famílias inteiras estão soterradas sob escombros; hospitais operam sem recursos; e a população de Gaza sobrevive em condições desumanas. Falar em cessar-fogo sem reconhecer o sofrimento acumulado e as causas profundas do conflito é perpetuar a normalização da tragédia.

A pergunta que paira é: haverá vontade política real de transformar essa pausa em um caminho para a paz? Ou o ciclo da destruição recomeçará assim que os interesses estratégicos de ambos os lados se realinharem?

Fonte: G1

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