O discurso dominante insiste: “a economia vai bem”. Os indicadores apontam alta no PIB, os relatórios de mercado comemoram a queda da inflação, e os gráficos das grandes consultorias pintam o país de verde. Mas há uma pergunta que persiste, incômoda, nos corredores da vida real: quem, exatamente, está indo bem?
Na prática, o crescimento econômico brasileiro tem se revelado como um espetáculo restrito a poucos. O país até cresce — lentamente, aos tropeços — mas não distribui. A renda se concentra, o consumo popular segue estrangulado, e a desigualdade continua nos mesmos trilhos de sempre. O que vemos é um crescimento que engorda o topo, mas deixa a base de dieta forçada.
Basta observar a composição das políticas públicas. A prioridade ainda é a estabilidade fiscal, mas uma estabilidade que nunca toca os privilégios. A meta é manter o teto de gastos para os investimentos sociais, mas o piso é inabalável para o sistema financeiro. A cada orçamento, bilhões seguem garantidos para a rolagem da dívida, enquanto faltam recursos para transporte, habitação e saúde pública.
A lógica é clara: os juros altos continuam sendo a principal ferramenta de combate à inflação — mesmo quando a inflação já vem caindo. O Banco Central se mantém vigilante, como um cão de guarda do rentismo, sempre disposto a segurar a economia real para proteger o capital especulativo. E nisso, as pequenas empresas são sufocadas, o consumo é travado, e o desemprego estrutural se normaliza.
Por outro lado, enquanto o brasileiro aperta o cinto, o agronegócio exportador e o setor financeiro batem recordes. Os bancos lucram bilhões por trimestre mesmo em meio à crise. As grandes fortunas seguem intactas. E os empresários, que gritam contra qualquer taxação, continuam dependendo de desonerações, incentivos fiscais e crédito subsidiado — ou seja, do próprio Estado que dizem querer menor.
Falar em “livre mercado” virou desculpa para manter privilégios. O setor produtivo cobra eficiência, mas não abre mão dos monopólios. Pede liberdade econômica, mas recorre ao Estado sempre que há risco de perda. Cobra produtividade do trabalhador, mas se recusa a discutir participação nos lucros, jornada reduzida ou proteção social. É um jogo desequilibrado, onde o risco é sempre coletivo e o lucro, exclusivamente privado.
O mais perverso é que essa arquitetura econômica é vendida como inevitável. Nos debates, quem questiona esse modelo é tratado como irresponsável. Defender uma reforma tributária justa, que cobre mais dos ricos, é chamado de populismo. Propor que o Estado invista em infraestrutura ou indústria nacional é visto como atraso. E pedir que o crescimento seja acompanhado de redistribuição é quase uma heresia técnica.
Enquanto isso, o brasileiro comum convive com o fim do poder de compra, a informalidade crescente, a precarização do trabalho e a carestia da vida básica. A economia que aparece nas capas de jornal é, para ele, uma ficção.
O que o país precisa, urgentemente, é de uma nova matriz econômica. Uma que coloque o ser humano no centro da política. Que entenda que crescimento sem inclusão não é progresso — é acúmulo. Que compreenda que estabilidade sem justiça é apenas silêncio imposto. E que perceba que uma economia saudável não se mede apenas pelo desempenho das bolsas, mas pela dignidade da população.
É hora de parar de comemorar crescimento de planilha e começar a exigir desenvolvimento de verdade. Porque só faz sentido crescer se for para todos.
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