Desmascarando a Câmara dos deputados: a urgência da hipocrisia

Quando a Câmara dos Deputados afirma que a aprovação do regime de urgência para derrubar o decreto que aumenta o IOF foi um “recado claro da sociedade”, ela não está só deturpando a realidade — está insultando a inteligência do povo brasileiro.

A verdade é uma só: o que se viu foi mais um capítulo do jogo sujo entre Legislativo e Executivo, onde “recados da sociedade” são convenientemente usados como cortina de fumaça para pressionar por liberações de emendas parlamentares. Não foi a sociedade que pediu isso — foi a base fisiológica da velha política, que opera sob chantagem institucional para garantir seus privilégios.

É risível imaginar que 346 deputados tenham, de forma espontânea e desinteressada, se levantado em uníssono contra o aumento de impostos, sendo esses mesmos deputados quando o Brasil viu gasolina disparar, alimentos triplicarem de preço, e o desemprego corroer a renda do trabalhador? Onde estavam quando os bilionários continuavam blindados por isenções fiscais enquanto os pobres pagavam a conta?

A Câmara dos Deputados diz que apenas “ecoou” a voz das ruas. Que ruas? As ruas do Congresso Nacional, onde circulam planilhas de emendas, bastidores e chantagens orçamentárias? A suposta preocupação com o povo não passa de um discurso cínico para manipular a opinião pública e atacar o governo federal, que ousa tocar em um vespeiro: a tributação de superlucros e fortunas.

Quando o ministério da fazenda falou sobre “moradores de cobertura”, apontava justamente os que vivem num Brasil blindado à crise — aquele das holdings milionárias, dos investimentos protegidos por isenções, dos que lucram com a ciranda financeira. O IOF, nesse caso, é uma tentativa mínima de reequilibrar uma balança vergonhosamente desigual.

Mas a Câmara dos Deputados, como boa porta-voz do andar de cima, tenta inverter a lógica e posar de defensora do povo, algo que jamais foi. Fala como se estivesse em sintonia com as demandas populares, quando, na verdade, a sociedade sempre esteve fora das prioridades daquela casa legislativa, que parece trabalhar para uma casta endinheirada, protegida e embriagada de poder.

Essa narrativa do “recado da sociedade” é tão falsa quanto sua suposta indignação com impostos. A única urgência que existe é a de um Congresso que quer mais barganha, mais verbas e mais poder — custe o que custar.

É justamente essa dissonância entre o discurso e a prática que revela o cinismo institucional da Câmara dos Deputados. Enquanto posa de guardiã da responsabilidade fiscal, exige cortes de gastos do Executivo e prega equilíbrio nas contas públicas, por trás dos bastidores mantém o governo com a faca no pescoço — pressionando diuturnamente pela liberação de bilhões em emendas parlamentares.

A contradição é escancarada: cobra-se do Executivo que enxugue despesas essenciais, muitas delas voltadas à saúde, educação e infraestrutura, ao mesmo tempo em que se força a abertura do cofre público para atender acordos políticos que garantam votos, blindagem e sustentação de interesses privados. O discurso da austeridade serve apenas como retórica de conveniência — ele some quando o que está em jogo são as verbas de emendas que abastecem currais eleitorais e fortalecem estruturas de poder regional.

Assim, a Câmara dos Deputados não age em nome da população, mas sim como uma engrenagem de chantagem institucional que distorce o papel republicano que deveria exercer. E quando a pauta avança para discutir justiça tributária, a mesma Câmara se apressa em travar o debate, blindar os super-ricos e atacar qualquer tentativa de corrigir as desigualdades estruturais que sustentam seu próprio privilégio.

Assista ao vídeo aqui.

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