Antigamente, bastava o filho completar dezoito anos que o discurso vinha pronto: “Agora você já é de maior, se vira.”
Com ou sem emprego, com ou sem saber fritar um ovo, lá ia o sujeito tentar a vida. Alugava um quartinho, dividia marmita com o vizinho, e ainda dizia que era independência. Na prática, era sobrevivência com nome bonito.
Hoje, o cenário é outro. O filho faz vinte, vinte e cinco… às vezes trinta. E continua no mesmo quarto onde cresceu, agora redecorado com LED e monitor gamer. A mãe olha e pergunta: “Filho, e a namorada?”
Ele responde: “Tô focado em mim.”
E pronto. Fica por isso mesmo.
O curioso é que isso, que antes era visto como fracasso, virou quase tendência. Filho que não sai de casa, não namora e ainda pede o CPF da mãe pro iFood virou personagem comum da novela da vida real. E tem quem ache bonito, hein?
Mas calma, não vamos ser injustos. A vida tá cara. Aluguel virou artigo de luxo. Relacionamento exige investimento emocional, e também uma graninha — e convenhamos, nem todo mundo tá com os dois em dia. Tem muito jovem que tá tentando se encontrar num mundo que exige pressa pra tudo, menos pra amadurecer de verdade.
Além disso, as mães — essas heroínas de amor infinito — também mudaram. Muitas já nem querem que os filhos saiam. “Ele mora comigo, me faz companhia.” Pronto. O filho ganha cama, comida e roupa lavada, e a mãe ganha o filho por mais alguns anos. E quando a tal nora aparece… bem, aí a convivência vira reality show. Tem emoção, julgamento e torcida.
A verdade é que os tempos mudaram. Saímos da lógica do “tem que sair logo de casa” para a filosofia do “fica mais um pouco, meu filho, o mundo tá difícil demais”.
E talvez não esteja tão errado assim.
Porque no fim das contas, morar com os pais não define caráter. E nem a falta de namorada significa solidão. Cada um tem seu tempo, sua pressa, seu medo e sua escolha. Só não vale deixar a vida parar na zona de conforto — nem pro filho, nem pros pais.
Então, se o seu filho ainda não saiu de casa, não arrumou namorada e passa as tardes de domingo jogando online com os amigos… calma.
Pior seria se ele saísse por obrigação e voltasse todo dia pedindo dinheiro e conselhos que não ouve.
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