Em tempos de insegurança, o medo se transforma em mercadoria política valiosa. Ele é invisível, contagioso e de fácil propagação. Basta uma ameaça — real ou fabricada — para que se acenda o pânico. E uma vez aceso, o pânico demanda respostas rápidas, firmes, autoritárias. É nesse ambiente que líderes oportunistas florescem.
A política do pânico é, na essência, o governo por aflição. Não se sustenta na construção de soluções, mas na perpetuação do medo. O inimigo pode ser o “comunismo”, o “sistema”, a “doutrinação ideológica”, o “bandido”, o “invasor”, o “jornalista”, o “professor”. O conteúdo importa menos do que a função simbólica: manter a população em estado de alerta, com os olhos voltados para um inimigo construído — e a alma entregue a quem promete proteção.
Esse tipo de estratégia não é nova. O medo já sustentou impérios, ditaduras e populismos dos mais diversos. O que muda é o meio. Se antes era preciso um discurso inflamado nas praças, hoje basta um tuíte com emojis alarmistas. A retórica do caos — muitas vezes sem respaldo em dados — encontra fertilidade em bolhas digitais e em redes que priorizam sensacionalismo sobre complexidade.
Políticos que fazem do medo sua plataforma não querem apenas governar: querem se tornar indispensáveis. Um povo com medo é um povo manipulável. Aceita retrocessos em nome da segurança. Tolera censura disfarçada de ordem. Abre mão da vigilância democrática em troca de líderes que gritam mais alto. E, quando se dá conta, já não tem mais o direito de escolher em quem confiar.
A política do pânico também cria um ciclo vicioso. Primeiro, se exagera ou se inventa a ameaça. Depois, se propõe uma resposta autoritária como solução. Em seguida, se acusa os opositores de “passarem pano” para o perigo. Por fim, qualquer crítica vira prova de que “o sistema está contra nós”. Trata-se de uma engenharia emocional: o medo é o cimento; o ódio, o aço.
Essa tática é especialmente eficaz em sociedades traumatizadas por insegurança, desigualdade e falta de acesso a direitos básicos. O pânico preenche o vazio deixado pela ausência do Estado — e disfarça a incapacidade de políticas públicas reais. O governante que não entrega qualidade de vida entrega pavor, como se fosse a mesma coisa.
Concluindo, a democracia não pode se sustentar no medo. Ela exige vigilância, sim, mas também liberdade para respirar, discordar e confiar. A política do pânico não é apenas covarde: é criminosa. Ela esvazia o debate, reprime a razão e sequestra o futuro. Ou seja, enquanto o medo for plataforma, a esperança será oposição.
E para continuar refletindo sobre esse cenário, acesse o CanalImpério360 no YouTube e veja nossos vídeos analíticos sobre política, poder e democracia.