Em tempos de intensa polarização e jogos de narrativa, a política brasileira parece ter se consolidado como um tabuleiro onde a única peça descartável é justamente aquela que deveria ser o centro de toda a estratégia: o interesse público. O poder, hoje, já não se exerce apenas pelas urnas, mas sobretudo pela manipulação da indignação, pelo uso seletivo da lei e pela instrumentalização da verdade como ferramenta de conveniência.
A política institucional tem se tornado refém de interesses privados, corporativos e ideológicos, enquanto o debate público escorrega para o espetáculo. A pauta legislativa reflete, cada vez mais, uma lógica de proteção interna — voltada à autopreservação de mandatos, reputações e alianças — do que uma busca legítima por soluções para os problemas estruturais do país. O Parlamento legisla como se não devesse satisfação à sociedade, e o Executivo governa com base em cálculos de popularidade instantânea. O resultado é uma democracia de aparências, onde o ritual é mantido, mas o conteúdo democrático vai sendo esvaziado.
A elite política brasileira parece ter se acostumado à ideia de que governar é administrar crises e escândalos com discursos prontos, e não prevenir sua origem com responsabilidade. A lógica da coalizão, do centrão e da barganha orçamentária sequestrou qualquer chance real de reformas estruturais profundas. O Estado continua inchado onde não deveria e ausente onde é mais necessário.
Enquanto isso, cresce uma parcela da população descrente da política institucional, o que abre espaço para discursos extremistas, autoritários e simplistas. A desilusão generalizada não é espontânea: é alimentada diariamente por lideranças que tratam a política como trincheira, não como espaço de construção coletiva. E quando a política é reduzida a uma disputa de torcidas, o populismo e o oportunismo ocupam o centro do palco.
Não é possível construir uma democracia sólida com base em negações e ataques sistemáticos às instituições. Mas também não se constrói confiança cega em estruturas corroídas por práticas viciadas. O desafio é duplo: exigir integridade das instituições e, ao mesmo tempo, preservá-las do uso predatório que muitas vezes fazem delas.
A sociedade precisa voltar a ocupar o centro da agenda política, não como objeto de discursos vazios, mas como sujeito de direitos reais. É necessário romper com a lógica do curto prazo, da blindagem de aliados e da manipulação legislativa a serviço de interesses escusos. O Brasil precisa, mais do que nunca, de uma política que olhe para frente, mas que reconheça com humildade os erros do presente.
O CanalImpério360 reafirma seu compromisso com uma crítica firme, porém responsável. Não nos interessa a política como guerra, mas como campo de disputa legítima por ideias, valores e projetos. Nosso papel é provocar o debate, levantar as perguntas que incomodam e manter acesa a centelha de uma cidadania crítica. Porque, no final das contas, o que está em jogo não é apenas o destino de um governo ou de um grupo — é o próprio sentido da política em uma sociedade que ainda luta para se reconhecer como verdadeiramente democrática.