A “CRÔNICA” da mão que arremessa e o colo que protege: o paradoxo do crime

A cena é breve, mas o impacto é duradouro. Um caminhão passa tranquilo pela estrada quando, à margem, um homem com uma criança no colo decide interromper o fluxo da vida com um gesto seco e brutal: arremessa uma pedra no para-brisa do veículo em movimento. A imagem é real, crua, filmada, distribuída. Viral. Não há efeitos especiais — só o choque de ver a inocência e a violência dividindo o mesmo corpo.

É o tipo de acontecimento que faz o mundo parecer distorcido. O mesmo braço que deveria segurar firme, proteger do frio, embalar um choro, é o que se ergue com raiva e mira um alvo. E o alvo é outro ser humano. Um trabalhador, talvez, ou apenas alguém que passava. Um desconhecido, tanto quanto o destino de quem sofre as consequências de ações como essa.

A pedra voa, a criança observa. O som do impacto é abafado pelo barulho do absurdo. O motorista, tomado por susto e indignação, desce. E ali, naquele instante, estamos todos: pasmos, revoltados, tentando entender como a barbárie encontra espaço no colo da infância.

Há quem diga que foi loucura. Outros, que foi maldade. Talvez tenha sido as duas coisas — ou nenhuma delas. O que fica é o paradoxo: a mão que cuida, destrói. O colo que deveria acolher, expõe. E a criança, que um dia repetirá gestos, aprende que o mundo é feito de mãos que ferem, e não de mãos que protegem.

A crônica não tem final feliz. Nem precisa. Porque o final não está no vídeo — está na sociedade que deixamos construir. Uma onde a agressividade é banalizada e o afeto, negligenciado. Onde a proteção se mistura à violência e a infância, mais uma vez, é sequestrada pelo descaso.

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