Cansado de estar cansado

Existe um cansaço que não vem do corpo. É mais fundo. Não se resolve com sono, com férias ou com cafeína. É o cansaço de estar sempre em alerta, mesmo quando nada urgente acontece. Um esgotamento silencioso, sorridente, que se disfarça de produtividade, de “dar conta de tudo”, mas que carrega no fundo um desejo absurdo de simplesmente… parar.

Acordar já sentindo culpa. Dormir com a sensação de que faltou alguma coisa. A vida virou uma planilha mental de metas, prazos e pendências que se reproduzem como vírus. Trabalha-se até no descanso. E descansa-se com culpa. Quem ousa parar vira suspeito: de preguiça, de fracasso, de ser “pouco competitivo”. Vivemos uma era em que o descanso virou luxo, e o cansaço, símbolo de status. “Nossa, estou exausto”, dizemos, esperando admiração, como se viver cansado fosse sinal de sucesso.

A verdade é que estamos cercados por exigências invisíveis. Precisamos ler mais, comer melhor, estudar sempre, produzir conteúdo, atualizar o currículo, responder e-mails, cuidar da pele, beber água, caminhar trinta minutos por dia e ainda ter tempo para sorrir nas fotos. A vida virou um algoritmo, e quem não performa bem o tempo todo corre o risco de ser deletado da atenção alheia.

Ser produtivo é o novo ideal de felicidade. Não importa se você está bem — importa se você está rendendo. E é aí que mora o esgotamento: num mundo onde até o lazer precisa ser útil, até o amor virou investimento emocional. O resultado? Gente exausta que não sabe por quê. Gente que corre para não chegar a lugar nenhum. Gente que não está triste, mas também não está viva do jeito que gostaria.

Cansado de estar cansado. Essa é a frase que ressoa entre muitos e poucas vezes é dita. Porque admitir o cansaço é quase confessar fraqueza. E fraqueza, nesse mundo performático, é crime. Então seguimos — de pé, de olhos abertos, com a alma esgotada e um sorriso que ninguém sabe ao certo se é de verdade ou de sobrevivência.

Talvez o primeiro ato de resistência seja esse: desligar o modo automático. Silenciar a urgência. Reaprender a estar. Porque viver não deveria doer tanto. Porque a vida, no fim das contas, não é uma corrida. É um caminho. E, às vezes, parar também é avançar.

Assista ao vídeo aqui.

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