Desde a implantação do Plano Real, em 1994, o Brasil foi aprisionado a uma lógica econômica que, sob o pretexto de estabilidade, construiu uma armadilha cruel e deliberada contra seu próprio povo. O chamado tripé macroeconômico — metas de inflação, superávit primário e câmbio flutuante — tornou-se um dogma intocável. E o instrumento central dessa doutrina tem nome e sobrenome: juros altos como regra, não como exceção.
Ao longo de décadas, essa estrutura foi vendida como o único caminho possível para garantir a credibilidade econômica do país. Governos de diferentes espectros ideológicos, sob pressão do mercado e de organismos internacionais, aceitaram como verdade absoluta que a estabilidade de preços dependia de sacrificar o crescimento, o emprego e o bem-estar da população. A consequência direta dessa submissão foi a consolidação de um modelo que alimenta a estagnação, favorece os especuladores e pune quem produz e trabalha.
A inflação é o pretexto. Mas a real motivação é outra: garantir rentabilidade obscena aos financiadores da dívida pública, que embolsam lucros bilionários enquanto a economia real agoniza. Essa política, sustentada há décadas, é criminosa — não apenas por seus resultados concretos, mas pela maneira dissimulada como é imposta, mascarada sob uma falsa neutralidade técnica. Não há neutralidade possível em uma escolha que condena milhões à informalidade, ao desemprego e à perda de renda.
A cada vez que o Banco Central eleva a Selic em nome do “controle inflacionário”, o crédito encarece, o consumo trava, a produção encolhe, o emprego desaparece e a dívida explode. O orçamento da União é sugado para o pagamento de juros aos rentistas, enquanto faltam recursos para saúde, educação e investimentos públicos. A economia real sangra enquanto o andar de cima lucra sem risco. A pergunta que ninguém faz nos grandes jornais é: quem ganha com esse modelo? E por que ele continua sendo tratado como dogma?
A tese de que a inflação no Brasil decorre exclusivamente de excesso de demanda é uma falácia repetida para manter privilégios. Nossos principais vetores inflacionários são falhas de oferta: gargalos logísticos, concentração de mercado, instabilidade cambial, custos de produção elevados e ausência de política industrial. Combater isso com juros é como receitar veneno contra febre: ataca o sintoma de forma equivocada e enfraquece ainda mais o organismo.
Pior: essa abordagem ainda desestimula o investimento produtivo, já que os ganhos fáceis na ciranda financeira fazem com que empresas e fundos abandonem a indústria, a inovação e a geração de empregos. O país vira refém do rentismo, e o discurso de responsabilidade fiscal serve apenas como cortina de fumaça para ocultar um verdadeiro projeto de transferência de renda de baixo para cima.
É hora de dizer com todas as letras: essa política não é apenas equivocada — ela é imoral, autodestrutiva e consciente de seus efeitos. Trata-se de uma escolha política — não técnica — por um Brasil que cresce pouco, se contenta com serviços precários e transfere bilhões de reais em juros para uma elite financeira que não produz, apenas coleta.
A alternativa existe, é viável e precisa ser encarada com seriedade: políticas públicas voltadas para a expansão da oferta, capazes de atacar as causas reais da inflação e construir um país mais justo, produtivo e sustentável:
- Investimento massivo em infraestrutura, com ampliação e modernização de estradas, ferrovias, portos e centros de distribuição.
- Incentivo à concorrência real, quebrando cartéis e oligopólios que ditam preços à revelia do mercado.
- Política agrícola forte e estável, com planejamento de safra, crédito acessível e capacidade de escoamento da produção.
- Energia mais barata e diversificada, reduzindo a dependência de fontes instáveis e barateando os custos industriais.
- Reforma tributária estrutural e progressiva, que desonere a produção e o consumo das classes médias e trabalhadoras, e tribute com justiça o capital financeiro.
Essas medidas não apenas controlam a inflação de forma estrutural — elas recolocam o país no rumo do crescimento com inclusão social, geram empregos, estimulam a inovação e rompem com o ciclo vicioso da dependência financeira.
É preciso abandonar de vez o teatro técnico que encobre esse escândalo. O tripé macroeconômico, tal como tem sido aplicado, é um projeto de poder financeiro disfarçado de responsabilidade fiscal. Um projeto que produz recessão, desigualdade e atraso — e que tem nome, método e vítimas bem definidas.
O combate à inflação não pode mais servir de álibi para manter o Brasil de joelhos. Chegou a hora de romper com esse ciclo de juros abusivos, crescimento anêmico e lucro fácil. Continuar nessa rota é mais do que um erro histórico: é um crime de lesa-pátria cometido contra o futuro do país.
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