Ao longo da história, diferentes grupos políticos descobriram que o medo e o ódio são ferramentas eficazes para mobilizar massas. Mais do que argumentos racionais, o que move multidões em momentos de crise é a emoção bruta, muitas vezes canalizada em forma de raiva. A política, nesse contexto, deixa de ser espaço de debate e passa a ser campo de batalha simbólica — onde vencer não significa convencer, mas eliminar o adversário.
Desde os impérios antigos até os regimes autoritários do século XX, a tática da indignação dirigida foi usada com frequência. O ódio tem a capacidade de simplificar o mundo. Ele oferece respostas fáceis para problemas complexos: “o inimigo é o culpado”. Seja um povo estrangeiro, uma minoria étnica, uma religião, um partido ou uma classe social, o alvo da raiva é cuidadosamente escolhido e apresentado como o grande vilão da narrativa nacional.
Nos anos 1930, regimes como o nazismo e o fascismo elevaram essa lógica à brutalidade institucional. Não bastava discordar: era preciso perseguir, silenciar, aniquilar. A manutenção do poder dependia diretamente de manter a população em estado constante de alerta e hostilidade. O ódio era alimentado diariamente pela propaganda estatal, pelos discursos inflamados e por uma cultura política baseada na suspeita e no ressentimento.
Mas o fenômeno está longe de ser passado. No mundo contemporâneo, a indignação dirigida continua sendo uma tática central — agora amplificada por tecnologias digitais. A diferença é que, hoje, a raiva pode ser programada, direcionada por algoritmos, espalhada em segundos. Não é preciso mais uma rádio estatal ou um jornal oficial para manipular consciências: basta uma rede social com alvos bem definidos e conteúdos emocionais.
Grupos políticos que não conseguem oferecer soluções reais para os problemas sociais muitas vezes recorrem ao truque antigo: apontar culpados. Professores, artistas, jornalistas, cientistas, minorias, movimentos sociais, cortes supremas — todos podem virar o “outro” a ser combatido. A lógica é binária: ou você está conosco, ou é parte do problema. Assim, a raiva vira identidade, e a política vira guerra.
A indignação direcionada também tem efeitos psicológicos: ela dá sentido à frustração individual. Pessoas que se sentem impotentes diante da desigualdade, do desemprego ou da corrupção passam a se sentir parte de algo maior quando recebem um “inimigo” em comum. O ódio, nesse caso, atua como cola social. Une pela negação do outro, e não pela construção de algo coletivo. E isso tem consequências profundas.
Quando a política passa a depender do ódio como estratégia de engajamento, ela precisa manter esse combustível sempre aceso. Crises são fabricadas, escândalos são ampliados, conflitos são forjados. O objetivo nunca é resolver o problema — é mantê-lo vivo o suficiente para justificar o ataque contínuo ao inimigo. Trata-se de uma indignação seletiva, útil, manipulada.
O resultado disso tudo é o envenenamento do espaço público. O debate se empobrece. O diálogo é substituído por gritos. A dúvida, que é base do pensamento democrático, passa a ser tratada como traição. E os cidadãos, em vez de se reconhecerem como parte de uma sociedade plural, se veem em trincheiras opostas, prontos para o confronto.
Compreender a estratégia da indignação direcionada é fundamental para desarmar suas armadilhas. A história já mostrou onde isso pode nos levar — e não foi uma vez só. O desafio contemporâneo é construir uma política que mobilize pela esperança, não pela raiva; pela proposta, não pelo ataque; pelo comum, não pelo conflito artificial.
Enquanto a política continuar se alimentando do ódio, continuará paralisada em sua capacidade de transformar. E nesse jogo, a democracia — sempre ela — é quem mais perde.
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