COP30 no Brasil: Sustentabilidade ou Palanque Verde?

O Brasil vai sediar a COP30 ainda este ano. E com isso, o mundo volta os olhos para um país que é, ao mesmo tempo, símbolo de riqueza ambiental e cenário de retrocessos ecológicos. Mas será que sediar a conferência climática mais importante do planeta significa protagonismo ambiental real — ou apenas a construção de mais um palanque verde, onde o marketing fala mais alto que a ação?

A pergunta parece incômoda, mas é fundamental. Porque quando o discurso ambiental se torna um ativo de prestígio diplomático, é preciso estar atento: nem sempre o que se apresenta como compromisso ecológico nasce da responsabilidade. Muitas vezes, nasce da conveniência.

A Conferência das Partes da ONU (COP), que chega agora à sua 30ª edição, é um evento diplomático, político e midiático com alto impacto simbólico. É o espaço onde se decidem rumos — pelo menos no papel — das ações climáticas globais. Mas também é o espaço onde governos, empresas e instituições constroem narrativas muito bem embaladas, enquanto mantêm práticas destrutivas em seus territórios.

A escolha do Brasil como sede da COP30 é emblemática por múltiplas razões. Primeiro, pelo peso ambiental: abrigamos parte da maior floresta tropical do planeta, o maior aquífero subterrâneo do mundo, e um dos biomas mais biodiversos da Terra. Segundo, pelo histórico recente: somos também um dos países com maior taxa de desmatamento, conflitos fundiários e perseguição a ambientalistas.

O Brasil que vai sediar a COP é o mesmo que, em décadas recentes, desmontou instituições ambientais, flexibilizou o licenciamento de grandes obras e permitiu a expansão desenfreada da mineração em áreas protegidas. É o país onde fiscais do Ibama já foram punidos por cumprir a lei, e onde a proteção do meio ambiente ainda é tratada como obstáculo ao “progresso”.

Na teoria, o Brasil chega à COP30 como protagonista de uma nova diplomacia verde. Fala-se em bioeconomia, energia limpa, descarbonização. Mas a prática mostra contradições profundas.

O país mantém subsídios bilionários para combustíveis fósseis, flerta com a exploração de petróleo em áreas sensíveis como a foz do Amazonas e segue pressionando comunidades tradicionais com megaprojetos que degradam o meio ambiente.

Mesmo os avanços institucionais recentes, como o fortalecimento do Fundo Amazônia ou a retomada do diálogo internacional, não podem esconder o fato de que o modelo econômico vigente continua baseado na exportação de commodities, no extrativismo predatório e na concentração fundiária.

Fala-se em “transição ecológica”, mas o que se vê é a tentativa de transformar a floresta em ativo financeiro. O discurso verde se converte em negócio. A floresta vira produto. O meio ambiente vira narrativa para atrair investidores, e não necessariamente para garantir justiça ambiental.

A COP se tornou um ritual diplomático. Um grande teatro de intenções.

Líderes mundiais fazem discursos inflamados, celebram acordos climáticos, assinam cartas de boas intenções — enquanto suas matrizes energéticas seguem baseadas em carvão, petróleo e gás. Corporações anunciam metas de “emissões zero”, mas aumentam suas margens de lucro em cima de áreas degradadas e territórios expropriados.

No caso do Brasil, o risco é que a COP30 sirva mais para construir imagem internacional do que para gerar transformação concreta. E o que se vende como liderança climática pode ser, na verdade, apenas uma atualização do velho marketing institucional, agora pintado de verde.

Enquanto se prepara o palco em Belém, no Pará, o restante da Amazônia segue sob pressão. E a população mais afetada pela crise climática — os povos indígenas, quilombolas, ribeirinhos e agricultores familiares — segue sendo ignorada nas mesas de negociação.

É como se a COP reunisse o mundo para falar sobre mudanças climáticas… mas esquecesse de ouvir quem já está sendo destruído por elas.

O que realmente precisa ser dito

É urgente romper o ciclo em que o ambientalismo é capturado pelo capital.

É urgente colocar as vozes da periferia do mundo no centro do debate.

É urgente reconhecer que justiça climática não se faz apenas com inovação tecnológica — mas com reparação histórica, redistribuição de poder e mudança de lógica econômica.

Nenhuma meta de carbono neutro compensa o silêncio diante de assassinatos de líderes indígenas. Nenhuma diplomacia verde é legítima enquanto o cerrado vira pasto, enquanto a Amazônia sangra, enquanto o semiárido enfrenta fome hídrica.

Precisamos falar sobre justiça climática com seriedade, com radicalidade e com compromisso verdadeiro.

A COP30 será, sem dúvida, histórica. Mas a história que ela contará dependerá do que faremos com essa oportunidade.

O Brasil pode escolher entre dois caminhos:

Ser o país que lidera a transformação ambiental com coragem, ou ser aquele que aproveita o prestígio internacional para encobrir suas contradições internas.

Pode ser potência ambiental de verdade — ou apenas vitrine para os mesmos interesses de sempre.

Porque o mundo já não precisa de discursos.

Precisa de ações.

E a floresta, o clima, os povos e o futuro… não aguentam mais promessas.

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