Juscelino Kubitschek, o famoso JK, assumiu a presidência em 1956 com uma proposta ousada: fazer o Brasil crescer “50 anos em 5”. O slogan não era apenas marketing político, era um projeto ambicioso de industrialização, infraestrutura e integração nacional. Mas o que parecia ser o auge do desenvolvimentismo escondeu decisões de alto custo social, econômico e ambiental. É hora de revisitar esse período sem a névoa da nostalgia.
A construção de Brasília: símbolo e contradição
A nova capital no Planalto Central se tornou a face mais visível do governo JK. Planejada para integrar o território e descentralizar o poder, Brasília nasceu da arquitetura modernista de Lúcio Costa e Oscar Niemeyer, com traços futuristas que simbolizavam um país em transformação. Contudo, por trás da estética inovadora, havia uma realidade marcada por exploração de trabalhadores migrantes — os “candangos” — que ergueram a cidade em condições precárias e sem garantias trabalhistas adequadas.
A promessa de um novo Brasil centralizado territorialmente se concretizou, mas o abismo social persistiu: a capital foi construída com desigualdade já embutida em sua fundação. O projeto de nação excluía os próprios construtores da utopia.
O Plano de Metas e a priorização da indústria automobilística
O Plano de Metas de JK estabelecia 31 objetivos divididos em cinco setores: energia, transporte, alimentação, indústria de base e educação. Na prática, o foco caiu sobre dois pilares: energia e transporte. E, dentro do transporte, o destaque foi absoluto para a indústria automobilística, incentivando multinacionais como Volkswagen, Ford e General Motors a se instalarem no país.
As rodovias tomaram o lugar das ferrovias. O Brasil do futuro seria rodoviarista e automobilizado. Uma decisão com consequências de longo prazo: o abandono da malha ferroviária ainda penaliza a logística brasileira até hoje, elevando custos de transporte e contribuindo para o caos urbano nas grandes cidades.
A dívida externa: o preço do progresso
Para financiar seu projeto desenvolvimentista, JK recorreu pesadamente a empréstimos internacionais. A dívida externa brasileira mais que dobrou entre 1955 e 1960, saindo de cerca de 87 milhões de dólares para quase 200 milhões de dólares. O crescimento acelerado gerou inflação, desequilíbrios nas contas públicas e uma dependência do capital estrangeiro que marcaria a economia brasileira por décadas.
O “progresso” veio a juro alto. E com ele, a perda de soberania econômica. As escolhas de JK comprometeram o país a médio prazo, abrindo espaço para a instabilidade que viria nos anos 60.
Conclusão: o legado ambíguo de JK
Juscelino entrou para a história como o presidente do otimismo, da modernidade e do avanço. Mas, sob uma ótica crítica, seu governo revela os riscos de um crescimento baseado em endividamento, desigualdade social e escolhas mal planejadas. A utopia do progresso ignorou os limites estruturais do país, optando por soluções imediatistas que ainda hoje nos cobram a conta.
Celebrar JK não deve significar ignorar seus erros. É possível reconhecer os avanços do período e, ao mesmo tempo, debater os custos do “Brasil que deu certo” — ao menos para alguns. O futuro, afinal, não pode ser construído sobre ruínas silenciosas do passado.