A cultura é, sem dúvida, o pulsar de uma sociedade, a complexa tapeçaria que tece nossos valores compartilhados, as memórias que nos definem e as expressões que dão forma à nossa existência. Ela é o palco onde se forja a identidade, o motor da criatividade e o elo que une comunidades através do tempo e do espaço. Do canto ancestral ao grafite urbano, da culinária regional à performance de vanguarda, celebramos a beleza e a força inesgotável dessa diversidade.
Contudo, por trás da aparente harmonia e do reconhecimento da pluralidade cultural, esconde-se uma verdade persistente e desconfortável: nem todas as vozes ressoam com a mesma intensidade. As narrativas culturais que chegam aos holofotes são, muitas vezes, filtradas por lentes que priorizam, silenciam e, por vezes, distorcem. Essa assimetria na construção e disseminação de narrativas culturais reflete e perpetua as desigualdades estruturais que permeiam nossa sociedade.
Nesta seção, nosso propósito é ir além da mera observação dessa diversidade. Propomos um mergulho profundo nos mecanismos que determinam quem tem o poder de contar a própria história, quem é considerado “digno” de representação e como a exclusão de certas perspectivas empobrece o panorama cultural como um todo. Questionaremos as barreiras invisíveis que limitam o palco, a tela, as galerias e os microfones a poucos, enquanto a vasta riqueza de expressões permanece à margem.
De que maneira a lógica do mercado, os cânones estabelecidos e os preconceitos históricos influenciam o que é produzido, financiado e celebrado como “cultura de valor”? Analisaremos como a invisibilidade de manifestações artísticas ligadas a minorias étnicas, sociais e de gênero, a falta de investimentos em expressões populares e a concentração do poder de curadoria em círculos restritos contribuem para a manutenção de uma hierarquia cultural que silencia muitos em favor de poucos.
Nosso compromisso é com uma análise que busca desvelar essas dinâmicas de poder, dar palco às narrativas que foram apagadas e impulsionar um debate que pavimente o caminho para um cenário cultural mais justo e equitativo. Acreditamos que a verdadeira riqueza cultural reside na amplitude de suas vozes e que a celebração da diversidade só se concretiza quando todas as expressões são valorizadas, reconhecidas e têm seu lugar garantido na tapeçaria vibrante da humanidade.