🎬 A Política como Reality Show: Quando o Entretenimento Vira Estratégia de Poder

A política brasileira atravessa uma crise que não é apenas institucional ou econômica — é também narrativa. Vivemos a era em que o poder não é mais exercido — é encenado. Os governantes não atuam como representantes do povo, mas como protagonistas de um reality show onde o objetivo não é resolver problemas, mas manter a audiência engajada.

O que era para ser governo virou programação de temporada: cada crise é um episódio; cada discurso, um roteiro; cada escândalo, uma estratégia de engajamento. O gabinete virou bastidor. O plenário virou estúdio. E o povo, mais uma vez, foi transformado em espectador passivo, intoxicado por cortes rápidos, bordões agressivos e desinformação travestida de opinião.

A erosão da política não acontece de forma abrupta. Ela se infiltra pela linguagem, pelo tom, pela estética. Palanques se tornam palcos. Lives viram atos oficiais. O contraditório é substituído pela lacração. A governabilidade se mede por alcance, não por impacto. E quem domina os algoritmos, domina o debate — mesmo que não tenha proposta nenhuma a oferecer.

O mais grave é que essa performance não é inocente. Ela serve a um projeto. Um projeto que mina as instituições lentamente, sem precisar declarar guerra à democracia — basta rir dela. O populismo performático tem seus alvos bem definidos: a imprensa, o Congresso, o Judiciário, o conhecimento, os dados, a ciência. Tudo que ofereça resistência à narrativa é descartado como “inimigo do povo”.

A nova política-espetáculo não governa: distrai. Enquanto os holofotes estão sobre os memes e as frases virais, a máquina opera por trás com velhos esquemas de sempre — rachadinhas, desvios, lobbies, favorecimentos. A corrupção segue firme, mas agora com storytelling. A incompetência continua, mas com trilha sonora.

E o que é mais triste: funciona. Porque o cidadão, cansado, precarizado e mal informado, é conduzido a trocar esperança por entretenimento, e voto por torcida. Em vez de projeto de país, temos projetos de carreira. Em vez de líderes, temos personagens. Em vez de política, uma longa temporada de ilusão populista.

Se não rompermos esse ciclo, a democracia se tornará cada vez mais frágil. Porque a destruição da política não virá com tanques, mas com ring lights. O autoritarismo não entrará de farda — virá com filtro. E quando percebermos que não há mais diferença entre um influencer e um presidente, talvez seja tarde demais.

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